10 de novembro de 2017

Dia 7: Checkpoint Charlie

Turismo puro e duro. Hoje, quase trinta anos depois, é difícil lembrar que Berlim foi uma capital dividida e exemplo maior da Guerra Fria. Porém, nós que a vivemos em directo e ao vivo, dificilmente esquecemos como era o medo. Havia medo. Havia tensão. E havia, creio que mais do que medo e tensão, um rancor abafado pelo medo e pela tensão. Hoje, a memória desses dias é um enfeite para turista ver. Vejo os turistas a tirar retratos e selfies em Checkpoint Charlie, vejo a cara do soldado americano no poster que diz estarmos a sair do sector americano da Berlim dividida e penso como todo aquele sofrimento, o medo, a tensão e o rancor não valem nada perante selfies e turistas.
Imagino também o que irá na cabeça do meu marido enquanto vira e revira o checkpoint encenado para turista ver, uma quase instalação de arte. Sim, se não fosse um emblema histórico, o modo como Checkpoint Charlie está recriado poderia ser uma instalação da Joana Vasconcelos. é-me difícil estar ali a pensar nisto porque eu sei o que foi a divisão de Berlim. Penso no maravilhoso que é estar ali em liberdade e paz. Penso no irónico e espectacular que é Checkpoint Charlie estar reduzido a curiosidade histórica. Mas depois penso na banalização que se está a dar a algo monstruoso. Penso nas minhas tias que tiveram de fugir da ocupação. Penso nos mortos, no medo, na tensão e no rancor por um povo, um país dividido e a infâmia que aí levou. Penso em coisas de horror. Penso que era no bunker da nossa casa que eu brincava porque as casas tinham bunkers. Penso no horror da guerra e como ela é tão banal, mas tão banal hoje-em-dia que não nos apercebemos de quão próxima ela está. Penso que não nos deveríamos esquecer de Checkpoint Charlie no que ele significa de opressão à liberdade dos povos e à paz mundial. E atravesso para o sector soviético onde outra cara de soldado nos recebe com a mesma impassividade às selfies e aos turistas.

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