27 de setembro de 2017

Dia 3: Cruzeiro no Starnbergersee

Starnberg é uma estância balnear muito bem frequentada a sul de Munique. Não sei se é a cidade que empresta o nome ao lago, Starnbergersee, se vice-versa. É um local de veraneio associado às classes políticas e à aristocracia. Aqui tinha a imperatriz Sissi a sua residência de Verão e aqui morreu o rei Ludwig II. Concordo que, para quem viva num país de areais oceânicos a perder de vista, associar um lado rodeado de verde a praia é uma estranheza. Mas não é tanto assim. Não há ondas nem marés, é uma verdade, e surf também é coisa que não se faz. Porém, toma-se banho de água e sol, faz-se vela e relaxa-se. Enfim, não entremos por esse campo.
Está outro dia lindo de Verão e um cruzeiro no lago vem mesmo a calhar. Embarcamos. A toda a volta mansões luxuosas. A da Sissi atrai todas as atenções. Nascida na Baviera, Elisabeth casou com o herdeiro do império austro-húngaro e seguiu a ter com o noivo num cortejo esplendoroso pelo Danúbio abaixo até chegar a Viena. Era, contudo, aqui na Baviera que se sentia em casa e aqui que gostava de passar os Verões. É dela a mansão-palácio, hoje ainda em mãos privadas, que vemos semi-escondida entre a folhagem luxuriante. Deixou um mito atrás de si: Sissi, a imperatriz deslumbrante. Não foi feliz. Anoréctica, depressiva, sobreviveu ao suicídio do único filho varão e foi assassinada nas margens do Lago Genebra por um anarquista italiano. Trágico destino.
Destino trágico teve também o rei bávaro Ludwig II, o tal a quem chamam o Rei Louco e que mandou construir os palácios de sonho que inspiraram os castelos das princesas Disney. Morreu aqui no Starnbergersee, na margem oposta à da casa da imperatriz Elisabeth, em circunstâncias nunca explicadas. Tinha quarenta anos e estava falido à conta das megalomanias dos seus palácios, o último dos quais, Herrenchiemsee, nunca chegaria a ser concluído. Uma capela votiva assinala o local onde o seu corpo foi encontrado a flutuar sem vida.
 A meio do lago, a única ilha, Roseninsel, património UNESCO pelas suas casas pré-históricas lacustres, e local onde Ludwig II recebia amigos como a prima Sissi, a czarina russa, ou o compositor Richard Wagner.

Já no fim do cruzeiro, os meus padrinhos e o meu marido acenam exultantes aos barcos que passam. Eu sorrio. Ninguém acena do outro lado e eles sorriem perplexos por ninguém lhes acenar. O choque cultural tem destas pequenas coisas... Nada que nos desmorone o entusiasmo.

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