16 de agosto de 2014

Há três férias

Se eu morrer hoje, há três férias que levo com maior carinho na memória:
Zlatni Rat vista de Vidova Gora.
Brac em 2014 (as férias deste ano);
Loch Eribol, Escócia.
Escócia (e alguma Inglaterra mítica) em 2011, umas férias que começaram numa travessia de ferry em Bilbao e acabaram numa travessia de ferry em Calais;
Planície alentejana vista de Alter Pedroso.
 Um canto de Alentejo em 2009 (o ano em que eu descobri, em duas férias diferentes) que existe um pedaço de mundo chamado Alentejo.

Engraçado, ao pensar nas melhores férias da minha vida constato que todas sucederam pós-2008 e que todas foram passadas aqui neste Velho continente. Sobretudo, dou-me conta de que não é o exotismo da lonjura ou a exclusividade do sítio que importam: é o modo mental e emocional em que nos encontramos que nos levam a beber o melhor das viagens.
Na dor da morte da Mãe, na prisão do meu não-casamento levei-me em viagens Equador abaixo, Equador acima, meridianos para a esquerda, meridianos para a direita, fusos de horas a mais e fusos de horas a menos. Calcorreei desertos e palmilhei os lugares que os olhos viam no National Geographic e no Discovery Channel, mergulhei entre corais até me quase afogar e esquiei encostas de nevoeiro até quase me matar nas escarpas. Vivi. Persegui o David Attenborough (que ainda persigo e perseguirei até morrer), fiquei nos melhores resorts que o dinheiro pode comprar e rapidamente esgotei as viagens de sonho com que todos fantasiamos acordados. Achei-me privilegiada por poder concretizar essas viagens todas e pensei que isso era felicidade. Ainda me acho uma privilegiada e dou graças por isso. Mas o meu capítulo de vida é outro e, por vezes, pouco me reconheço na pessoa que viveu os meus capítulos passados.
Um lago perdido nas brumas escocesas, um pedaço alentejano com 40º à sombra ou uma ilha na Dalmácia com um dos melhores pôr-de-sol do mundo fazem-me feliz por ser: por ser eu que ali estou, naquele momento e naquelas circunstâncias. Agradeço a Deus, ou a qualquer Transcendência, por ter chegado Aqui, a este capítulo e, sobretudo, agradeço a lucidez de saber apreciar a felicidade do momento.
Não sei ainda onde irei de férias para o ano. Penso em Corfu, penso em repetir Brac e há ainda as Galápagos mas penso que, se esta pessoa e esta capacidade de fruição de instantes perdurar, não importa onde irei porque a felicidade estará lá à minha espera.
Às instâncias que se sobrepõem a mim e me permitem este Aqui: obrigada...

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