18 de junho de 2014

Desfecho de um divórcio: Parte V

30 de Maio e 1 de Junho:
O fim-de-semana mais longo da minha vida. A minha libertação pode ocorrer já no dia 2 de Junho ou o calvário seguirá sem fim à vista e mais mentiras, expedientes, morosidades. Agora que há esperança, é a esperança que me mata. Tão perto do fim, o meu corpo, o meu cérebro, o meu coração convergem em uníssono para a possibilidade de o desgaste continuar e isso dá-me náuseas, palpitações e falta de sono.
Por coincidência da vida, este fim-de-semana de ânsias é o primeiro fim-de-semana em que tenho os meus dois sobrinhos comigo. O Manel já passou vários fins-de-semana com a Tia e temos os nossos hábitos e a nossa logística mas esta é a primeira vez que a Maggie se junta a nós nestes seus doze meses de existência. Corre tudo sobre rodas e percebo que sou uma Tia-mãe com capacidade para cuidar e tomar conta dos meus dois sobrinhos em simultâneo. Porém, a minha mente nunca está longe do dia 2, a Segunda-feira que tudo pode mudar, a Segunda-feira que tudo pode continuar no pavor do meu, aparentemente eterno, divórcio.
Mortifico-me por não conseguir viver este fim-de-semana só pelos meus sobrinhos, crianças felizes que fazem a minha vida completa. No meu pensamento, invectivo a justiça deste país que me deixa neste estado de nervos e amaldiçoo o homem que me mantém refém de mentiras e que, sempre e só, me viu como um livro de cheques, querendo fazer deste divórcio um passaporte milionário. Perturbo-me por o meu divórcio infame e nojento me retirar espaço emocional ao usufruto dos meus sobrinhos.
Na noite de Sábado, Ela passa à minha porta. A Virgem Peregrina de Fátima passa à minha porta. Vou à varanda de mansinho sem que o Manel e os seus três anitos me vejam porque ainda não começámos a sua educação religiosa. Espero a Virgem que já vejo ao fundo da estrada. O Manel vem juntar-se a mim. Não faço nenhum comentário ao que se passa para não lhe gerar influências na mente tão moldável de três anos:
- É a minha festa preferida! - Grita animado, e entre pulinhos contentes, quando vê a Santa passar. Não sei como ele adivinha que isto é alguma festa. Não sei o que o leva a dizer que isto é algo preferido. Atribuo a sua reacção apenas à originalidade da situação na sua vida tão curtinha. Sei que o meu silêncio a respeito de religiosidades e doutrinas nunca o terá influenciado mas fico a pensar na estranheza das suas palavras. É no silêncio que peço à Santa protecção para os meus sobrinhos e conscientemente não peço auxílio para a nojice do meu divórcio. Não tenho direito. Não posso conspurcar a oração com algo tão vil e mesquinho como o meu divórcio. Este é o meu calvário e eu sozinha carrego a cruz.
No Domingo à noite, a minha irmã e o meu cunhado vêm buscar os meus sobrinhos. Jantamos todos juntos e eu desabo. O stress e a angústia levam a melhor sobre a minha compostura e sobre a minha máscara. Sinto que vou ter um enfarte tal é o grau de ansiedade mas o amor que me rodeia ampara-me. Estou sózinha no calvário mas há Verónicas que me limpam as lágrimas. Amanhã é o dia.  

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