27 de julho de 2010

27 Julho 2009, 21.30.


- Nice seeing you here. - I said.
- Likewise! Nice seeing you here. - You smiled.

Numa história improvável materializaste a probabilidade. Trouxeste-me "Água", "Terra", "Fogo" e "Ar" da Escócia onde me foste buscar. "I'm a man of my word", também me disseste. E eu acreditei sem te responder, fazendo-te galgar quilómetros e atravessar o mar sem saberes se eu ali estaria no meio de estranhos à espera de um estranho.
You kept your word. And I was there.

Não sei se a imagem no retrovisor se aproximou, esse reflexo que te fugia. Eu sei que vejo outros reflexos na infinitude de 3,1415, a vertigem de Pi em que transmutaste a minha vida, naquele dia três vezes depois.
O teu chá de bagas e a minha camomila e o castelo iluminado, Mouro e não Escocês, e Moçambique e a Alemanha, o piano e o saxofone. Casar-me-ias de diamantes, sim três vezes depois. Mas fala-me antes da Escócia. E eu gostei das pedras no gesso com ADN. Achei que o druida de olhos verdes era um bocado demais. Mas ele disse-te que vinhas. E a Ness mandou-me qualquer coisa por ti. Foste um bom correio e eu devolvi-to num sorriso, mas só num sorriso. Já viste aqui as ovelhas pasmacentas? Ainda não? A ver se te atolas nelas como eu e aí não precisas da Escócia. Não percebeste que eu te retribuí os quatro elementos, eu que só pensava neles, não importa. As amoras surpreenderam-te, não foi? Tu é que começaste, não venhas com coisas. E deste-me um abraço tão forte quando o vento brincava com os meus cabelos e eu te dei com a porta e quase te acertei. Mas vinhas sereno do mar que te enquadrava e eu achei que tinhas a pose de um Ramsés.
Já passou um ano? Não foi rápido nem lento. Foi o suficiente para o passado que eu queria lá no Alentejo por onde eu te levava em busca de tempestades e onde tu me aprendias e eu te seguia em busca de sombras chinesas nas paredes de luar. E onde as antas e os castanheiros falavam do Tempo que é Tempo e que não tínhamos. Já passou um ano? Finalmente passou um ano.
E sabes?
És tu.

26 de julho de 2010

Ai que calor!!

Eu a pensar que na Suécia é que tinha tido calor. O tinhas! Até o meu Spotty anda sossegado. E para o Spotty andar sossegado...

25 de julho de 2010

Komposta Amanitki à Blonde


Ontem fiz um dos meus jantares temáticos cá em casa: grego.
A minha ressurreição e a desta casa, a barriga da Mana com o meu sobrinho, Tu, tudo isto merece vida, tudo isto merece a mesa posta com o pão e o vinho da celebração.
Pus a toalha búlgara da Mãe (não é grega mas é dos Balcãs, pensei), música syrtaki e o Demis Roussos (a que só eu e Mana achamos piada) para darem o ambiente.
Fiz tzatziki, salada de feta, moussaka e para sobremesa komposta amanitki, que é assim uma sopa de fruta comida com iogurte grego que até os deuses a comem no sétimo Olimpo.
Cá vai (à minha moda, como sempre):

Ingredientes:
2 maçãs reinetas
3 pêras mouretino
3 nectarinas
3 pêssegos amarelos
8 dl de água
400grs açúcar,
5 cabeças de cravinho
2 paus de canela
sumo e casca de um limão

Numa panela colocar ao lume a água, o açúcar, o sumo e casca de limão, a canela e os cravinhos. Quando levantar fervura colocar as maçãs e as pêras descascadas e cortadas em quartos. Ferver 3 minutos e depois juntar os pêssegos e as nectarinas. Ferver mais 3 minutos. Com uma escumadeira retirar a fruta para uma saladeira. Deixar o líquido apurar ao lume mais uns minutos e depois juntar às frutas.
Serve-se à temperatura ambiente ou fria com colheradas de iogurte grego bem espesso.
Hmmm....

23 de julho de 2010

Invasão de cozinha


Surpreendo-me a cada instante.
Oiço-te. Passos. O tilintar de copos, portas que se fecham e abrem, restolhadas de coisas que abres. Imagino-te espreitando por entre a louça de décadas: a minha e a das mulheres das gerações que me precederam nesta cozinha; a minha cozinha. E surpreendo-me mais porque te orientas e mais ainda quando me dizes onde estão as coisas na minha cozinha. Não preciso falar. O fácil de não falar não tem explicação porque me dá o espaço de olhar, ou, como agora, que estou aqui longe na biblioteca e te oiço e não falo, mas imagino, visualizo o café que fazes com canela, as torradas de centeio que vão estar à minha espera quando eu descer da biblioteca que era do meu Pai e agora é minha e por onde entras sempre que queres ou queiras.
Tu não sabes e não podes imaginar. Ignoras que é a Casa que volta à vida, ignoras por completo que vida não-vida habitou nestes espaços onde eu vivi só por entre ruínas de memórias e paredes que falam. Sim, como queres que a surpresa ou a perplexidade se vão embora de mim, assim, rápido, como se não fosse nada, quando tudo não explica o Tudo que se vive aqui, nesta casa, onde me fazes café...

20 de julho de 2010

A banalidade do excepcional

Há tantas coisas a dizer do banal. Há o livro da Hannah Arendt, The Banality of Evil, há um texto que eu costumava dar aos meus alunos de Relações Internacionais e Ciência Política, "The Banality of the Good", e há a banalidade dos nossos quotidianos assombrosos. Apercebo-me de que gosto do banal pelo seu carácter confortável, expectável, domesticado, uma espécie de banho-maria em que nos encaixamos sem muito que pensar. Mas, mais do que isto, gosto do banal pelo seu potencial de abertura à ruptura, ao imprevisto.
Há dias assim, banais, a-históricos que, de súbito, se agigantam e nos arrebatam com uma força de onda sísmica que tudo transforma e remolda. Acordamos para o quotidiano e, sem saber como ou de onde, de repente não há quotidiano, há um episódio fora de ordem. Pode ser, por vezes, a desordem do caos da vida que se destrói, o acidental tenebroso. E pode ser, noutras e mais raras vezes, o sublime, o sublime que tudo vale, que nos enleva e eleva acima de nós.
O sublime...

16 de julho de 2010

Kycklingsallad


- Sorry, I don't speak Swedish. - É a frase que mais tenho dito por estes dias e é esquisito porque nunca preciso dizer que não falo a língua. Nos países em que a diferença física é acentuada falam-me logo em Inglês, onde se fala em Inglês estou em casa, na Alemanha idem e na França nunca me lembro de me terem falado outra coisa que não Francês, tal como aqui na Suécia, só que aqui eu não entendo nada. Ou seja, estou mesmo no meio de estrangeiros e os primeiros segundos de comunicação são-me sempre e invariavelmente estranhos porque não me reconheço no papel da pseudo-nativa não falante. Sim, estranho.
Hoje à tarde, sol alto e quente apesar de serem sete da tarde, fiz uma pausa de andarilho. Pedi a salada vitaminada que se vê na foto: Kycklingsallad diz o recibo da conta. Pensam que "Kyckling" é um fruto? Enganam-se. É frango! Mas enfim, pelo menos posso dizer que comi esta coisa impronunciável e para quem não sabe soa a exótico.
Vejo os suecos. Simpáticos mas metidos com eles. Reproduzem-se em abundância. Vejo crianças a cada passo e lojas para garotos são mais que muitas (o meu futuro sobrinho Manel é que tem sorte no meio disto). Penso em nós desgraçados e na nossa qualidade de vida mísera que nem para nos povoarmos dá. A partir das quatro da tarde as esplanadas estão cheias, ao longo dos canais famílias inteiras a passear, nos jardins é quase impossível estender uma toalha para apanhar sol. A essa hora estamos nós, desgraçados, a meio do dia laboral e as crianças fechadas por escolas e creches fora. Triste país. Tristes gerações.
Não os acho muito distintos dos alemães para ser franca. São talvez mais silenciosos, afinal o sueco é menos gutural e áspero que o alemão, mas não sei se essa é a razão. Não têm cortinas ou persianas nas janelas. Está tudo feito para usufruto da claridade, mas eu, que venho desse Meridião iluminado, acho um excesso de luz e canso-me de tantas horas de dia. Adoram design de móveis e, claro, vindo aqui e vista daqui, a IKEA é pavorosa face ao muito bom que eles aqui têm.
E se me perguntarem o que de melhor levo na memória: as flores (nas janelas, parapeitos, varandas, lojas, passeios, mercados). Flores por toda a parte. Ah, e as cestas e caixas de svenska jordgubbar, os morangos suecos, que eu levaria à minha Mana grávida não se fossem derreter na viagem.
Vemo-nos em Portugal.

Continuando em Göteborg


Então imaginem: 5.000 delegados; 47 sessões paralelas; além do centro de congressos, o Svenska Mässans, há mais 6 locais com sessões da conferência e a mim calhou-me uma sala para 400 pessoas. É de doidos! Caí no mundo da academia em formato mega-hiper. Dou por mim a pensar onde é que há Ciência que dê para encher isto tudo. Não sei se este é o melhor caminho, é, pelo menos, o caminho actual. Há de tudo, mas o bestialmente bom é raro. Raríssimo.
Não sei o que acharão de mim, no meu formato loura-bimba-fashionista. Recebo os olhares curiosos da praxe. Oiço em comentário que é difícil chegar ao meu grau de precisão. É-me indiferente em termos de feedback. Mas o mesmo não se passa quando me vêm dizer que eu tenho a linguagem capaz de levar a Ciência ao público fora da academia. Entro em modo networking.
Passa da uma da manhã. Vai clarear dentro em pouco. Amanheceu a chover, mas depois do jantar das conversas de ocasião: qual a tua área, o que fizeste no phd, em que projectos estás, e o que pensas de x ou de pto, e ai que giro o teu percurso e ai gostei do teu paper ou ai que pena não pude estar no teu paper, vim a caminhar devagar para o hotel. Há música ao vivo nos bares por onde passo, apetece-me parar mas estou cansada demais para que o neurónio funcione ao nível mais elementar. Vejo os canais de águas paradas e as igrejas em estilo nórdico sóbrio. Amanhã talvez tenha mais tempo...

14 de julho de 2010

Göteborg



Calor, calor, calor.
São 11 da noite e saio de uma esplanada entre as mil desta cidade. Passeia-se tão bem na rua que não me apetece regressar já ao hotel, onde me espera a revisão de notas para a palestra de amanhã.
Cheira a flores de tília, um cheiro doce e aveludado que se mistura com a água dos canais e do rio. Faz-se noite tarde e não bule uma aragem. Foi um dia longo e estou cansada mas simpatizei com a cidade assim que entrei no táxi no aeroporto: um árabe paradoxal numa cidade loura cobra-me exactamente o preço que vi na net pela corrida entre o meu hotel e Landvetter a 22 kms. Espreita-me no retrovisor onde pendurou o típico olho da superstição oriental. É simpático sem precisar de me falar em resposta ao americano que lhe debito.
Em cinco minutos consigo fazer o reconhecimento da cidade. Não preciso perder tempo a olhar mapas ou a fazer perguntas a transeuntes. Gosto disso. E gosto da descontração sueca que me deixa sair do aeroporto sem um único controlo, um único stop, uma única formalidade. Também, que terrorismo se lembraria de um sítio tão pacato como Göteborg, onde só aportam aviões pequeninos e os embarques se fazem a meias com os desembarques?
Bem, lá vou rever as notas e deitar-me enquanto penso que ali ao pé do canal que me passa em frente ao quarto é que se estava bem...

Hoje...

Hoje estarei a embarcar para a Suécia. Hoje há um ano eu ignorava que no ano seguinte iria comemorar este dia num dia em que parto.
Foi ao final do dia. Um dia banal sem nada de assinalável. O semestre findava. Eu já tinha programado as férias. Já me tinha encaixado na Vida nova. Já me acostumava à minha casa grande com ecos e divisões em que nunca entro. Já tinha curado os males de coração de alguém que mo arrebatou. Já me habituava à lentidão do divórcio na justiça. Estava em paz comigo e na minha vida. Gostava de acordar na minha vida, na minha carreira, na minha casa. Estava tão longe de que nesse dia, hoje há um ano, a Vida me abrisse um capítulo inteiro, me pusesse uma caneta na mão e me dissesse: ESCREVE.
Escrevi. Escrevo. Quero escrever.

13 de julho de 2010

Gaita!

Quinn, you rockabilly son of a smoking gun, you got me good this time dude!

Já não há notícias


Procuro as notícias mas não há NADA. E nem é porque chegou a silly season. Não há, ponto. Não há uma trafulhada parlamentar, uma crise aguda, uma estapafurdice qualquer num país de estapafurdices, nada. Há a selecção espanhola (ainda), a crise moribunda que se arrasta e um deserto de ideias. Que seca!

11 de julho de 2010

Então estamos entre...

... p.a.v.o.r.o.s.o e excelente. Bem, podia ser pior, tendo em conta que eu ainda me espanto de cada vez que aqui venho e dou de caras ali com a mega Loura. Para já, para já fica assim, depois logo se vê se a Blonde aqui não terá uma conversinha com a Loura ali... É que isto muita loura junta está mesmo a pedir sarilhos e eu nunca gostei de competição (if you get the drift).

8 de julho de 2010

Estão a ver o facelift?

Pois não me agradeçam. O cirurgião plástico é aqui o Quinn, sabem o Ferreira-Pinto. Sim, um Senhor da pronúncia do Norte que foi, apenas, o primeiríssimo leitor que este blog teve e a prova provada de que a internet é esta coisa fabulosa na geração de comunidades sócio-virtuais.

Eu disse-lhe: "Quinn, my friend, o Blonde está a precisar de uma fronha nova". O resultado, meus amigos, está à vista. Eu ainda estou meia banza...

7 de julho de 2010

A culpa é do c#$%&* do polvo!!!


A minha pena é que os alemães não saibam cozinhar polvo (moi même incluída), senão eu dizia onde é que acabava este anormal deste polvo oráculo!!!!

Continua a ser o meu momento zen


Levantar-me e fazer café amargo ainda é o meu nirvana diário. É tão apaziguador. Tão simples. Eu nem gosto de café por aí além, mas o meu café da manhã...
Hoje, contudo, depois de uma (outra) noite tão mal dormida vai de descafeinado que eu estou uma pilha, tem é de ser preto, quente, amargo e numa big mug.
Eu que nunca tive medo de estar aqui neste casarão sózinha e o máximo que faço é ligar o alarme no piso de baixo quando cá estou sózinha, dei por mim às duas da manhã a ligar o alarme todo e fechar-me no quarto. Depois estive acordada em stress até às três a imaginar que o dito ia disparar se eu me mexesse. Desliguei-o. Que anormalidade de noite. Não percebo isto mas não é já a primeira vez que me acontece nestes últimos tempos. Só este café parece pôr um ponto final naqueles terrores nocturnos.
Bem, tenho mais que fazer do que estar para aqui a pensar parvoíces. Vou.

5 de julho de 2010

Dormi mal...

... muito.

Queria falar. Escrever. Verbalizar. Mas não sei que dizer. Ainda não apanhei os pensamentos. Voam a mil à hora. Não me deixaram dormir. Queria acordar, acordar depressa como se a Vida me dissesse que tem pressa agora. Como se não importasse mais nada do que ficou para trás. E acordei.

O que se diz quando num dia de súbito se acorda assim... para o resto da Vida?

2 de julho de 2010

Blonde e o Cartão de Cidadã: a sequela


Outra crónica de um país Mickey Mouse.
Vai uma Blonde levantar o dito cujo cartão de cidadã à Conservatória da área de residência:
- Lamentamos mas hoje não vai poder levantar o cartão. Só damos 16 senhas por dia para levantamento dos cartões de cidadão e por hoje já esgotaram.
??!!
??!!

1 de julho de 2010

Tenho o rabo quadrado...


... de tantas horas que estou sentada. Ó vida de Prof.! A coisa é de tal ordem que já vou numa lista de prioridades prioritárias, em vez da usual uma coisa de cada vez. Ora vejam só:
- relatórios de pós-graduação para avaliar;
- uma resma de testes de licenciatura;
- uma tese de mestrado para ajuizar;
- um powerpoint para fazer e levar para um congresso daqui a duas semanas;
- trabalhos de teses para corrigir (até o Português é para corrigir, Deus Santo!);
- e mais as outras coisas que não são prioritárias esta semana mas são-no para a outra e, por isso, nem vou pensar agora.
I need holidays! (a lot!)